
Com o objetivo de discutir e buscar soluções para um problema cada vez mais evidente e preocupante, a Funfarme e a Famerp – Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (SP) – realizaram, nos dias 13 e 14 de junho, o 2º Simpósio de Prevenção da Violência Contra a Pessoa Idosa, no Hospital de Base (HB). O evento promoveu a integração entre os setores da saúde, assistência social e autoridades públicas para enfrentar os desafios crescentes do cuidado à população idosa.
Durante os dois dias de simpósio, médicos, promotores, delegados e especialistas debateram em palestras e mesas-redondas temas sensíveis como a violência física, psicológica, financeira e institucional sofrida por idosos. A proposta foi criar um espaço para apresentar dados, expor experiências práticas e construir políticas públicas eficazes e viáveis de proteção.
Diante da gravidade do tema, o simpósio ultrapassou os muros do hospital. O delegado e vereador Renato Pupo convidou a equipe de Geriatria do Hospital de Base a ocupar a tribuna da Câmara Municipal de Rio Preto, para apresentar suas propostas e evidenciar a importância do cuidado especializado aos idosos, especialmente nos casos de violência.
Para a médica geriatra da Funfarme e vice-coordenadora da residência em Geriatria da Famerp, a precarização da qualidade de vida dos idosos é um reflexo direto das dificuldades enfrentadas pelas famílias. “Muitos idosos são totalmente dependentes, precisam de cuidados contínuos, e grande parte das famílias não tem condições de oferecer isso. O abandono é apenas uma das formas de violência que enfrentam”, destacou.
O diretor executivo da Funfarme, Dr. Horácio José Ramalho, lembrou que, em 2017, o complexo hospitalar conquistou o selo “Amigo do Idoso” e reforçou o compromisso da instituição com a causa. “A sociedade impõe aos idosos uma série de vulnerabilidades. Muitos ainda sustentam suas famílias, mesmo com limitações. Há carência de transporte, acessibilidade, locais de acolhimento e tratamento adequado para quadros como demência. Precisamos avançar nessas frentes”, afirmou.
O envelhecimento da população tem gerado impactos diretos na demanda dos serviços de saúde. Dr. Horácio revelou que, apenas na última sexta-feira (13/06), dos 845 pacientes internados no Hospital de Base, 288 tinham mais de 70 anos — representando 34% do total.
Os números também expõem uma triste realidade: a violência contra idosos tem crescido. O Hospital de Base, que atende casos complexos da região, registrava até 2021 uma média de 20 atendimentos anuais de idosos vítimas de violência. Em 2022, esse número saltou para 35. Em 2023, foram 53 registros. Só em 2025, até o dia 12 de junho, 21 idosos já haviam sido atendidos com sinais de violência. Tentativas de suicídio lideram com 41% dos casos, seguidas por agressões físicas (35%) e negligência (10%).
O aumento nas tentativas de suicídio em 2025 também é alarmante: houve crescimento de 50% em relação ao mesmo período do ano passado.
A Delegacia de Proteção ao Idoso (DPI) de Rio Preto já contabiliza 166 denúncias de violência e maus-tratos contra pessoas idosas até o dia 9 de junho. A delegada responsável pelo setor alertou para a situação de vulnerabilidade extrema em que muitos vivem. “São idosos que, muitas vezes, vivem isolados, em cômodos ao fundo das casas, sem acesso a cuidados básicos como higiene, alimentação e medicação. São vítimas não só de agressões físicas, mas também de abandono e da indiferença”, explicou.
O promotor público responsável pela área também reforçou a gravidade da situação, alertando para o impacto do envelhecimento populacional. “Em muitas cidades da região, já temos mais pessoas com mais de 60 anos do que abaixo de 18. Com famílias menores, há menos cuidadores disponíveis. O resultado é o aumento de casos de abandono e negligência”, destacou. Ele ainda parabenizou a Funfarme e a Famerp pela realização do simpósio e reforçou o papel estratégico dos profissionais da saúde na identificação de casos e no encaminhamento das vítimas.
O simpósio reafirma o papel do Hospital de Base e das instituições parceiras na construção de uma rede de proteção mais eficiente e humanizada para a população idosa — que, cada vez mais, depende do olhar atento e da ação conjunta da sociedade, do poder público e das instituições de saúde.